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sexta-feira, 12 de março de 2010

Por Zé Luís
Perigos de um Pastor sem vocação





Quando comecei pegar gosto por frequentar igreja evangélica, não demorou muito para eu começar a analisar as pregações e pensar:


“ Consigo pregar melhor que este cidadão... tenho mais cursos, boa dicção, melhor oratória, mais tempo de leitura, absorvo melhor contextos... e essa minha humildade que me permite ser mais do que qualquer um daqui..."
Não demorou muito para que eu fosse convidado a estra pregando, não em minha igreja, mas em um imenso templo, onde engasguei após ter me preparado tanto, e gaguejei diante dos olhares daquela multidão de gente paciente. Poucas vezes, cinco minutos se prolongaram tanto.
Mesmo assim, persisti, estudando mais e mais, com um impulso que parecia nascer dentro de minha alma. Havia uma necessidade, uma fome, mas o orgulho de me achar melhor – que parecia me impulsionar - parecia nublar determinados pontos. Era como se tudo que eu dissesse não soasse sincero (o que realmente não era). Parafraseando C.S .Lewis, falar de perdão é super fácil, até que você precise perdoar coisas imperdoáveis. Falar de amor a inimigos , na teoria, é simples: existem milhares de bons textos que nos animam a isso, até que seu opositor te agride com a truculência possível.Isso, com o tempo, levou-me a uma encruzilhada sobre minha real vocação. Ainda mais quando conheci um candidato a pastor que, ao conhecer minha crise existencial de não viver o que pregava e querer pregá-la, avisou: “Mas nós não podemos viver o que pregamos. Seria como uma enfermeira se compadecer com todos os doentes que trata...”
Parecia que falávamos de uma preparação intelectual (que já tentara e não funcionou) onde arrebanhávamos vidas como em uma linha de produção. Um uniforme que visto ao sentar numa sala, para aconselhar e preparar pregações com este ou aquele objetivo, seja ele aumentar membresia ou aumentar a arrecadação para a reforma do telhado.Isso é o efeito quando não há vocação: o fardo da ingratidão alheia será insuportável. Certamente, terei que ter outros estimulantes que não são o amor incondicional pelas almas. Tem de haver um preço para que não me veja em prejuízo.Se não há vocação, a alma não sentirá a dor daqueles que choram, dos depressivos suicidas, das mocinhas grávidas pelo sexo casual, dos que lutam e são derrotados por sua própria sexualidade.Sem vocação, tudo isso fará parte de um contexto onde o lucro da obra é baseado na expansão da igreja-franquia, e meu rendimento para o Reino (que é reino, com letra minúscula) pode ser medido em uma planilha, com prospecção gráfica de quanto se expandirá o empreendimento santo e, em quanto tempo.


A longo prazo, ficarei cínico e fingirei que me importo com a dor alheia – por fazer parte do nobre ofício, mas sempre dentro dos horários comerciais.
A entropia de querer viver o Evangelho a parte do que o Mestre ensinou me fará constar em suas palavras: “lobos em pele de cordeiro”. Certamente, serei aquele que entra pela janela, e que não se importa em sentar em uma mórbida e confortável poltrona, feita de vidas alheias que não lhe pertencem.

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